Foi o que Leonardo Boff afirmou quando começou a sua fala no segundo dia do III Fórum de Comunicação e Sustentabilidade. Segundo ele, a humanidade nos últimos 400 anos tem vivido para a acumulação de riquezas para o consumo ilimitado e esse modelo de consumo, aliado a uma ideia de dominação, gerou diversos problemas ecológicos como o aquecimento global.
No entanto, para o professor, ainda há uma alternativa: um segundo modelo baseado em encontros nos fóruns mundiais para discutir a sustentabilidade. Esse modelo, que se contrapõe à dominação, significa o cuidado. “A dominação é a mão fechada, esse outro modelo é a mão aberta para entrelaçar os dedos”, diz. A Carta da Terra (declaração de princípios éticos para a construção de uma sociedade sustentável na atualidade) não utiliza o termo “meio ambiente” e sim "comunidade de vida". “Queremos o ambiente inteiro”, ressalta o teólogo que é membro da Comissão da Carta.
Para Boff, o verbo mais necessário na modernidade, principalmente quando discutimos a sustentabilidade, é cuidar. Cuidar de nós mesmos, cuidar dos outros, cuidar da natureza, porque tudo aquilo que cuidamos tende a durar muito mais. “Hoje o imperativo é cuidar, cuidar e cuidar. O cuidado é uma relação amorosa com a realidade. É servir ao outro. Nós não administramos as nossas famílias, nós amamos nossas famílias. Cuidamos delas. E é assim que devemos tratar a natureza.” O professor aponta a importância dessa preocupação com a natureza e cita o discurso de Evo Moralles, no qual ele diz que a Terra não pode ser tratada como simplesmente terra, mas sim como Mãe Terra. “Terra você compra, vende, mexe. Mãe você ama, cuida, respeita. É preciso essa relação de cuidado, de sinergia, de respeito com a Terra”, diz Leonardo Boff.
Quanto à contribuição da comunicação para a sustentabilidade, o professor diz que os meios de comunicação são importantes para suscitar a consciência, já que produzem incômodo, fazem com que as pessoas leiam, se preocupem, se movam. “O relógio corre contra nós. É preciso esse incômodo que a Comunicação nos causa.”
O professor destaca que o ser humano nunca deixará de consumir, porque o consumo é premissa básica da sua natureza, mas que precisa consumir com responsabilidade, com parcimônia. Esse novo modelo de consumo estaria baseado em duas pilastras. A primeira seria o cuidado. A segunda a sustentabilidade, que para ele é permitir que cada ser, o planeta, uma instituição, possa garantir as condições para reproduzir a sua vida e continuar o processo de evolução da Terra. “O desenvolvimento é devorador, a sustentabilidade não. É o sentido da biodiversidade, da cooperação: um complementando ou outro. Essa é a lei do universo: os seres mutuamente se ajudando”, ressalta Boff. Conforme o teólogo, o modelo de desenvolvimento que adotamos atualmente não permite que todos garantam a sua vida igualmente (daí vem a pobreza e consequentemente a violência). Esse modelo não é de sustentabilidade.
Leonardo Boff ainda faz uma indignação: “As pessoas festejam, estão na coluna social com copos de uísque, felizes como se a sociedade fosse toda feliz, sem perceber a gravidade do que se vive. Não percebem que estamos num Titanic, mas que podemos ir para a Arca Salvadora de Noé. Mas não só alguns. Todos. Esse novo mundo deve nascer dotado de cuidado, não só consumir bens materiais, que já esgotaram, mas sim da espiritualidade que é infinita. Amor é infinito, solidariedade é infinita. É disso que a gente precisa”, termina o grande mestre ovacionado pela plateia.
Nos bastidores, após uma sessão de autógrafos, Leonardo Boff falou especificamente sobre sustentabilidade e meios de comunicação. Confira no vídeo abaixo.
2 comentários:
Adorei. Vc pegou a essência da fala do Boff. Muito bom!!!
”Esse novo mundo deve nascer dotado de cuidado, não só consumir bens materiais, que já esgotaram, mas sim da espiritualidade que é infinita. Amor é infinito, solidariedade é infinita. É disso que a gente precisa”.
Parece tão simples, mas é tão verdade isso né. Bom demais ouvir pessoas assim, e compartilhar com quem acredita tbm.
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