domingo, 23 de maio de 2010

A Terra não precisa de nós. Somos o câncer da Terra.


Foi o que Leonardo Boff afirmou quando começou a sua fala no segundo dia do III Fórum de Comunicação e Sustentabilidade. Segundo ele, a humanidade nos últimos 400 anos tem vivido para a acumulação de riquezas para o consumo ilimitado e esse modelo de consumo, aliado a uma ideia de dominação, gerou diversos problemas ecológicos como o aquecimento global.

No entanto, para o professor, ainda há uma alternativa: um segundo modelo baseado em encontros nos fóruns mundiais para discutir a sustentabilidade. Esse modelo, que se contrapõe à dominação, significa o cuidado. “A dominação é a mão fechada, esse outro modelo é a mão aberta para entrelaçar os dedos”, diz. A Carta da Terra (declaração de princípios éticos para a construção de uma sociedade sustentável na atualidade) não utiliza o termo “meio ambiente” e sim "comunidade de vida". “Queremos o ambiente inteiro”, ressalta o teólogo que é membro da Comissão da Carta.

Para Boff, o verbo mais necessário na modernidade, principalmente quando discutimos a sustentabilidade, é cuidar. Cuidar de nós mesmos, cuidar dos outros, cuidar da natureza, porque tudo aquilo que cuidamos tende a durar muito mais. “Hoje o imperativo é cuidar, cuidar e cuidar. O cuidado é uma relação amorosa com a realidade. É servir ao outro. Nós não administramos as nossas famílias, nós amamos nossas famílias. Cuidamos delas. E é assim que devemos tratar a natureza.” O professor aponta a importância dessa preocupação com a natureza e cita o discurso de Evo Moralles, no qual ele diz que a Terra não pode ser tratada como simplesmente terra, mas sim como Mãe Terra. “Terra você compra, vende, mexe. Mãe você ama, cuida, respeita. É preciso essa relação de cuidado, de sinergia, de respeito com a Terra”, diz Leonardo Boff.

Quanto à contribuição da comunicação para a sustentabilidade, o professor diz que os meios de comunicação são importantes para suscitar a consciência, já que produzem incômodo, fazem com que as pessoas leiam, se preocupem, se movam. “O relógio corre contra nós. É preciso esse incômodo que a Comunicação nos causa.”

O professor destaca que o ser humano nunca deixará de consumir, porque o consumo é premissa básica da sua natureza, mas que precisa consumir com responsabilidade, com parcimônia. Esse novo modelo de consumo estaria baseado em duas pilastras. A primeira seria o cuidado. A segunda a sustentabilidade, que para ele é permitir que cada ser, o planeta, uma instituição, possa garantir as condições para reproduzir a sua vida e continuar o processo de evolução da Terra. “O desenvolvimento é devorador, a sustentabilidade não. É o sentido da biodiversidade, da cooperação: um complementando ou outro. Essa é a lei do universo: os seres mutuamente se ajudando”, ressalta Boff. Conforme o teólogo, o modelo de desenvolvimento que adotamos atualmente não permite que todos garantam a sua vida igualmente (daí vem a pobreza e consequentemente a violência). Esse modelo não é de sustentabilidade.

Leonardo Boff ainda faz uma indignação: “As pessoas festejam, estão na coluna social com copos de uísque, felizes como se a sociedade fosse toda feliz, sem perceber a gravidade do que se vive. Não percebem que estamos num Titanic, mas que podemos ir para a Arca Salvadora de Noé. Mas não só alguns. Todos. Esse novo mundo deve nascer dotado de cuidado, não só consumir bens materiais, que já esgotaram, mas sim da espiritualidade que é infinita. Amor é infinito, solidariedade é infinita. É disso que a gente precisa”, termina o grande mestre ovacionado pela plateia.


Nos bastidores, após uma sessão de autógrafos, Leonardo Boff falou especificamente sobre sustentabilidade e meios de comunicação. Confira no vídeo abaixo.

2 comentários:

Daniela Serra disse...

Adorei. Vc pegou a essência da fala do Boff. Muito bom!!!

Matheus Ventura disse...

”Esse novo mundo deve nascer dotado de cuidado, não só consumir bens materiais, que já esgotaram, mas sim da espiritualidade que é infinita. Amor é infinito, solidariedade é infinita. É disso que a gente precisa”.

Parece tão simples, mas é tão verdade isso né. Bom demais ouvir pessoas assim, e compartilhar com quem acredita tbm.