quinta-feira, 20 de maio de 2010

Autonomia de discurso.

A Casa do Zezinho é um projeto social localizado no bairro de Capão Redondo, na cidade de São Paulo. Ativa há 30 anos, a casa estruturou-se como "uma comunidade de pessoas que têm como visão comum a necessidade de construção de uma sociedade
onde os conceitos de desenvolvimento humano, de cidadania e os direitos a ela inerentes sejam a linha ética mestra da convivência", como descrito no site do projeto. A casa tem como objetivo praticar uma pedagogia distinta, em que o aprendizado seja bilinear, quer dizer, do professor ao aluno e vice-versa. Com isso, pretendem criar nas crianças autonomia de pensamento e condições para uma vida melhor.

Por sorte do destino encontramos Dagmar Rivieri Garroux, pedagoga e fundadora da Casa do Zezinho, mais conhecida como Tia Dag, que nos cedeu uma descontraída entrevista ao ar livre.

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Fórum Verde Paralelo: Qual a relação do evento com o seu projeto?

Tia Dag: O evento é de comunicação e sustentabilidade e se você não investir em educação, informação e desenvolvimento humano, você não tem sustentabilidade. A primeira coisa, qualquer processo de mudança tem que passar pela educação. E a educação que eu estou falando não é a educação formal, é a educação da casa, deste tipo de evento.
Uma coisa que me pega muito é que este tipo de evento não acontece na periferia, lá em São Paulo ou nos morros aqui no Rio, e deveria para que as pessoas também pudessem ter essa consciência. Quem mora, por exemplo, lá no Capão, como ele vai pensar?
E ele [o morador da periferia] já faz sustentabilidade, ele pega resto de tábua lá e faz a casa dele, tudo bem que ele tá jogando o esgoto dele dentro de um rio, mas como você fala disso tudo se ele mora dentro do lixão? Como você vai falar para ele que a garrafa ou o lixo pode ser reaproveitado, se ele não tiver a educação, a informação? Precisa disso.
São sempre os mesmo locais, ou nas universidades, ou nos centros de eventos. Tem que sair! Aí teria tudo a ver com o meu projeto no terceiro setor, porque eu não separo o ser humano do meio ambiente, o ser humano também é ambiente, também é natureza, ele também é terra, ele também é ar, também é natureza.
Na casa do Zezinho, a gente trabalha isso desde o começo, tem tudo a ver com comunicação. Mas tem que sair dos grandes centros, a Universidade tem que sair de lá do trono dela, mas não pode chegar achando que é dona do conhecimento. Porque tem que aprender com a comunidade. Se você consegue viver numa comunidade como a minha, que a renda per capita varia de 70 a 140 reais por mês, que vive abaixando da linha da pobreza, como eles vivem? São muito mais sustentáveis que a classe média que tem um tênis tal, uma camisa tal. Já estão fazendo isso [sustentabilidade] a muito tempo, mas pela miséria, não pela vida.
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FVP: Ano passado o fórum foi em São Paulo, você participou do evento?

Tia Dag: Não, o ano passado eu não participei.
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FVP: E o que você achou do evento? Da repercussão e dos palestrantes?

Tia Dag: Eu gostei muito, a pedagogia da casa do Zezinho é a filosofia Arco Íris, porque são diversas cores, diversas possibilidades, individualidades e sonhos. Eu espero que ele possa repercutir mais, em muitos mais locais, não só nos grandes centros.
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FVP: Mudando um pouco de assunto, o que você acha do nosso sistema de educação brasileiro?

Tia Dag: Primeiro, tinham que destruir as escolas e recomeçar, porque o que está se educando? O que está acontecendo com as escolas? A escola pública é um caos, a escola privada... quer dizer, a gente vive num país democrático que não existe democracia. A escolar, a de saúde, de moradia. No meu ponto de vista tem que acabar esse modelo de escola. Eu acredito que o professor da escola particular não está antenado, não sabe o que pode fazer na web, o que ele pode fazer com ensino a distância. Por exemplo, quando eles falam em democracia, as Casas Bahia já fizeram democracia (rs), pois elas colocaram computador para todo mundo, o problema é ter dinheiro para pagar a internet. Aí vem o tal do “gato”. Mas já teve inclusão digital, as Casas Bahia fizeram isso. As escolas têm que parar. Acabou esse modelo.
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FVP: Você acha que a relação professor/aluno tem que mudar também?

Tia Dag: Totalmente. Para mim a relação é ser-humano/ser-humano. Todo mundo tem coisas para passar um para o outro. Vocês jovens tem muito mais para ensinar para um professor na área de tecnologia, na área que vocês dominam. E o professor também tem que trazer o conhecimento que corresponda ao que você tem de interesse, na sua realidade. Uma coisa que eu me pergunto: Porque até hoje ensinam o que é decâmetro? Eu, por exemplo, não sei para que serve. A bendita tabela periódica que ensinam no segundo grau. Pra quê? Tem que ensinar como se anda, como se lê mapa, como se anda na cidade, onde estão os pontos culturais, como ele pode ter acesso a tanta informação, mas é uma coisa que não acontece. Isso é um absurdo.

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Mais informações sobre o projeto, acesse o site da Casa do Zezinho


Bárbara Ferreira, Luísa Melo e Raphael Vieira

3 comentários:

Bárbara Magri disse...

adorei a parte da relação aluno com o professor!
estou orgulhosa de vcs, já falei? beijo de invejinha!

Luísa Melo disse...

Acho lindo você comentando, Magri! Porque todo mundo diz que leu, mas ninguém comenta. É frustrante! hahaha

Bárbara Ferreira disse...

Concordo Lu.. é meio frustrante que ninguém dê a sua opinião! Valeu Bá!!!
=D